terça-feira, 21 de agosto de 2012

Estranha forma de permanência


Ela saia todas as tardes para passear
Às vezes levava livros, mochila, fazia o caminho a pé.
Outras vezes ia de bicicleta, jaqueta aberta,
Sentindo o vento passar.
Deixava um rastro (de perfume ou de angústia) no ar.
E provava coisas estranhas pelo caminho
Degustava o escuro, o musgo do muro,
O pólen da flor
Fiapos de sol, algodão de nuvem.
Via sua solidão passear, sem fazer sombra
E voltava para casa com uma sensação estranha.
Solidão sem agasalho.
Tristeza atropelada no asfalto.
Não escrevia poema nem versos,
Derramava-os no escuro
Gotejando bolor no quarto que estranha sua presença.
E quando acontecia algo de bom,
Imediatamente agradecia a Deus
Na sua estranha prece sem crença.
Um dia escreveu num bilhete de bronze simplesmente te amo.
Não dedicou a ninguém. Seu bilhete em bronze não era poema,
Mas uma estranha forma de permanência.